Vamos abordar a grande questão de como ser produtivo. Vivemos em uma era em que ser produtivo virou sinônimo de ser valioso. Mas quantas vezes você já se sentiu esgotado no fim do dia, mesmo tendo feito dezenas de tarefas? Esse é o dilema silencioso da produtividade sem propósito — quando a energia é investida em demandas que não refletem sua verdade interior, e o resultado é um vazio que nenhuma checklist completa consegue preencher.
A sociedade de alta performance nos ensinou a focar em metas, mas nem sempre nos ensinou a perguntar: “Para que tudo isso? Para quem? Com que custo?”. Trabalhar 12 horas por dia, responder mensagens à meia-noite, encher a agenda até não sobrar espaço nem para respirar… isso parece produtividade. Mas muitas vezes é só correria. E correria é diferente de realização.
Lembro de um momento em minha carreira, quando liderava vários projetos em simultâneo, viajando constantemente, administrando pessoas, metas e expectativas. Do lado de fora, tudo parecia perfeito. Do lado de dentro, um cansaço emocional tomava conta. Foi preciso parar. Respirar. Revisar. E ali eu compreendi: ser produtivo não é fazer mais — é fazer o que importa, com presença, equilíbrio e clareza.
Como escreveu o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 6:12: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm.” É possível dizer sim para muitas coisas. Mas será que todas elas te aproximam da vida que você quer construir?
A tríade essencial: equilíbrio, foco e energia
Equilíbrio não é inércia — é escolha consciente
Manter o equilíbrio em tempos acelerados é um ato de coragem. É olhar para a avalanche de tarefas, pressões e estímulos e ainda assim escolher manter a sanidade. É saber que seu corpo não é uma máquina, que sua mente precisa de pausas, e que sua alma clama por silêncio.
O equilíbrio começa quando paramos de nos comparar com a agenda dos outros e começamos a escutar nossos próprios limites. Não há fórmula mágica, mas há sensibilidade. Há atenção ao que o corpo diz, ao que o coração pede. E há uma decisão: viver com mais presença do que urgência.
O estoico Sêneca escreveu: “Não é que tenhamos pouco tempo, mas que desperdiçamos muito dele.” O equilíbrio não nasce da falta de tempo, mas do uso sábio dele. Não se trata apenas de trabalhar menos, mas de viver mais — com saúde, com alegria e com escolhas conscientes.
Foco: o superpoder da mente moderna
Você já percebeu que uma das maiores riquezas da atualidade é a atenção? Todos querem a sua: aplicativos, redes sociais, e-mails, notificações… Mas se você entregar sua atenção sem critério, entregará também sua energia vital.
Foco é uma disciplina. Não algo inato, mas cultivado. E quanto mais você se aprofunda no autoconhecimento, mais percebe que foco é, acima de tudo, uma escolha de valor. Quando você sabe o que importa, fica mais fácil dizer “não” ao que apenas distrai.
Lembre-se: para onde vai o seu foco, vai também a sua energia. Essa é uma das ideias mais fundamentais da neurociência aplicada ao desempenho humano. Seu cérebro é como um holofote — o que você ilumina, cresce. O que você ignora, se apaga.
Já escrevi no blog sobre isso no artigo “A produtividade não está no que você faz — está no que você escolhe não fazer.” Lá, aprofundo o impacto da distração disfarçada de urgência. Se você ainda não leu, recomendo que leia logo depois deste.
Uma prática que me ajuda diariamente é começar o dia com a pergunta: “Qual é a única coisa que, se eu fizer hoje, já valerá o meu dia?”. Essa simples pergunta traz clareza e ajuda a colocar energia no que realmente transforma. E mais: crie uma “zona de foco” em seu dia. Um momento inegociável, de pelo menos 90 minutos, em que você se dedica exclusivamente ao que mais importa.
O mito da multitarefa
O Dr. Earl Miller, neurocientista do MIT, demonstrou que nosso cérebro não foi projetado para a multitarefa. Na verdade, ao tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo, você reduz seu desempenho em cada uma delas. A produtividade está na presença — não na dispersão.
Energia: o combustível da ação significativa
Você pode ter metas incríveis e foco apurado — mas se estiver sem energia, nada vai fluir. A energia vem de várias fontes: sono de qualidade, alimentação consciente, conexões saudáveis, pausas estratégicas, propósito claro.
Aqui vale mencionar um conceito transformador: o “Milagre da Manhã”, popularizado por Hal Elrod. O autor propõe que você separe a primeira hora do seu dia para nutrir corpo, mente e espírito com práticas como silêncio, afirmações, visualizações, exercícios físicos, leitura e escrita. Essa rotina simples, quando repetida diariamente, amplia sua energia vital de maneira poderosa.
Eu mesmo, quando adotei uma rotina matinal com propósito — meditação, leitura da Bíblia e escrita reflexiva — percebi um salto não apenas na produtividade, mas na clareza do que é realmente importante. Não era sobre correr mais. Era sobre começar melhor.
Como já afirmaram Tony Schwartz e Jim Loehr, especialistas em performance, produtividade não é uma questão de gestão de tempo, mas de gestão de energia. Quando você reserva o que tem de melhor para o que é mais essencial, tudo muda.
Outra prática fundamental é cuidar do ciclo ultradiano: a cada 90 a 120 minutos, faça uma pausa de 10 a 15 minutos. Beba água, alongue-se, respire. A produtividade sustentável exige renovação constante.
Propósito: o norte da sua produtividade
Produtividade sem propósito é como correr em uma esteira: muito esforço, pouco avanço. Quando você sabe o porquê está fazendo algo, sua motivação se torna mais profunda e sustentável. É o propósito que sustenta os dias difíceis, dá sentido às escolhas difíceis e protege sua energia das distrações.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, observou nos campos de concentração que aqueles que perdiam o sentido da vida também perdiam a força para continuar. Seu livro “Em busca de sentido” é uma obra-prima que nos ensina que propósito não é luxo, é sobrevivência emocional.
Pare um instante e pergunte: qual é o impacto que você quer deixar no mundo? Essa pergunta, embora simples, tem o poder de alinhar toda a sua agenda com sua alma.
Dicas práticas para aplicar hoje mesmo (expandidas)
- Acorde com intenção
Não comece seu dia no piloto automático. Antes de olhar o celular, olhe para dentro. Respire fundo. Conecte-se com o que realmente importa para você. Faça uma pequena oração ou reflexão que coloque sua mente no presente. - Use a regra das 3 prioridades
Defina as três coisas que, se realizadas, farão seu dia valer a pena. Dê prioridade a elas no seu período de maior energia. Não confunda movimento com progresso. - Crie rituais de início e fim
Tenha um ritual para começar e encerrar seu dia. Isso ajuda seu cérebro a entrar em estado produtivo e depois desacelerar. Pode ser algo simples como preparar um chá, escrever uma intenção, ouvir uma música. - Diga não com mais frequência
Toda vez que você diz sim para algo sem importância, está dizendo não para o que realmente importa. Seja honesto com seus limites. O mundo não vai acabar porque você disse não. - Invista no ócio criativo
Ficar sem fazer nada também é produtivo — desde que seja um tempo consciente, criativo, contemplativo. É nesse espaço que ideias nascem, que a mente se oxigena e a alma respira. - Tenha uma rotina matinal espiritual e mental
Comece seu dia alimentando a alma. Leia algo inspirador. Ore. Escreva em seu diário. Alimente-se não só de café, mas de propósito. - Acompanhe seus níveis de energia ao longo do dia
Observe quando você se sente mais produtivo e respeite esse ritmo. Organize suas tarefas mais exigentes para os momentos de maior energia. Isso reduz frustração e aumenta performance. - Revisite seu propósito toda semana
Reserve um tempo, ao menos uma vez por semana, para refletir se suas ações estão alinhadas com seus valores e seu propósito. Essa prática simples previne desvios e aumenta a motivação. - Evite multitarefa — foque no essencial
Dê presença total à tarefa em mãos. Desligue notificações. Feche abas desnecessárias. Coloque fones com música instrumental. Faça do seu ambiente um santuário de concentração. - Pratique o ciclo ultradiano com pausas estratégicas
A cada 90 minutos, levante-se. Beba água. Alongue o corpo. Respire fundo. Essa pausa não é perda de tempo — é manutenção da sua capacidade produtiva.
Concluindo, produtividade com alma é possível
Não aceite o modelo de produtividade que te transforma em máquina. Você não veio ao mundo para funcionar — veio para florescer. E florescer leva tempo, requer cuidado, escuta, intenção.
Você não precisa fazer mais para valer mais. Precisa apenas alinhar o que faz com o que é. E isso, meu amigo, minha amiga, é o caminho mais curto para viver com verdade e deixar sua marca no mundo.
Como Epicteto dizia, “as coisas essenciais são poucas.” A verdadeira produtividade está em viver com propósito, preservar sua energia e focar naquilo que realmente transforma.
Agora me diga: esse texto fez sentido para você? Que mudanças você pode fazer hoje para ser mais produtivo sem se esgotar? Compartilhe comigo — e lembre-se: você é especial, inclusive quando escolhe desacelerar para cuidar de si.